Estou saindo do armário

Calma gente, não é o que vocês estão pensando! Não virei shimbalaiê!
A questão é que estou saindo do armário em outro sentido: estou começando a assumir para mim mesma e para a sociedade o fato de que eu não tenho religião. E digo mais, assumir que não acredito em deus.
Desde pequena eu não conseguia aceitar a ideia de que um livro poderia regrar toda a minha vida, e que um ‘cara lá de cima’, que dizia que me amava, me mandaria para o inferno se eu mentisse para a minha mãe sobre ter arrumado o meu quarto. Sentia-me incomodada quando eu ameaçava fazer alguma peraltice de criança e minha avó me desafiava com um sonoro ‘deus castiga, menina’.
Fui introduzida ao catecismo aproximadamente aos 7 anos, se não me engano, juntamente com mais duas amigas. Nenhuma concluiu o curso. Uma delas, hoje em dia, considera-se espírita. A outra, formulou o seu próprio conceito de ‘deus’, mas sem religião. A outra, essa ruiva que vos fala, considera-se ateia. Mas há um ponto no qual nós três concordamos: não fazer catecismo não fez falta nenhuma para nossa formação, visto que nossas famílias não eram fortemente religiosas. Mas havia uma pessoa que discordava de mim na questão do catecismo ser opcional: minha ex sogra. A família toda do meu ex namorado, incluindo ele próprio, era toda católica extreme fucking fervorosa. Ele me arrastava para missas e grupos de orações, e eu sempre comungava, por sugestão dele mesmo, para não fazer feio diante de seus pais e parentes. Um belo dia de sol eu dei com a língua nos dentes e acabei falando para a ex sogra que não havia feito catecismo. PRONTO. Juntou a família toda para debater comigo o porquê disso. Cara, acho que se eu tivesse dito que era sei la, hermafrodita, o choque seria menor.
O problema de ser ateia é justamente esse: as pessoas se chocam. Na minha opinião, o fator ‘religião’ tem o papel de um pai extra. O pai te ama te deu a vida, mas se ele te vê fazendo algo errado, castiga. Agora imagine um pai que, teoricamente, está sempre vendo TUDO o que você está fazendo e pensando, prontinho para te punir? A consciência pesa, né? É daí que vem esse respeito e temor à deus. O engraçado é que, segundo essa linha de raciocínio, as pessoas não fazem o bem ao próximo simplesmente por bondade, mas sim para agradar ao ‘pai’, porque né, senão ele castiga.
Em certos períodos históricos, essa pregação do que ‘deus acha certo e errado’ deve ter sido muito efetiva para pautar as relações humanas. Para mim, a bíblia é isso: um livro para pautar o comportamento do pessoal da idade média. É de uma força psicológica tremenda o efeito do que está escrito na bíblia sobre os religiosos. Aposto que muitos de vocês já ouviram alguém justificar/oprimir uma atitude com o argumento ’tá na bíblia’. Eu, inclusive, tenho uma amiga que não sabia se transava ou não com o namorado (apesar de querer muito), porque achava que ‘não é assim que deus quer que seja meu namoro’.
Confesso que me sinto mais leve hoje em dia, assumindo minha não-crença para mim mesma. Eu, que já pintei esculturas de santos de gesso, que já fui solista no coral da igreja e que namorava um cara que andava pra lá e pra cá com um terço no bolso, hoje saio do armário com orgulho. Graças à deus.